O Apaixonado
Luas, marfins, instrumentos e rosas,
Traços de Dúrer, lampiões austeros,
Nove algarismos e o cambiante zero,
Devo fingir que existem essas coisas.
Fingir que no passado aconteceram
Persépolis e Roma e que uma areia
Subtil mediu a sorte dessa ameia
Que os séculos de ferro desfizeram.
Devo fingir as armas e a pira
Da epopeia e os pesados mares
Que corroem da terra os vãos pilares.
Devo fingir que há outros.
É mentira. Só tu existes.
Minha desventura,
Minha ventura, inesgotável, pura.
Jorge Luis Borges, in "História da Noite"
Tradução de Fernando Pinto do Amaral
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
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