sábado, 17 de março de 2007

Fur - Um Retrato Imaginário de Diane Arbus
de Steven Shainberg
















O filme é uma abordagem imaginária e surrealista à vida de Diane Arbus, fotógrafa americana que rompeu com preconceitos e desafiou o conceito vigente de beleza.

Nicole Kidman, numa excelente interpretação, dá vida a Diane, uma mulher que, como tantas outras da sua geração, se sente dividida entre o amor à família e filhos e uma profunda necessidade de explorar o mundo e de criar. “Nasci diferente”, diz Diane ao marido. Nasceu artista numa época em que o papel da mulher estava constrito ao papel de dona de casa e mãe. Diane era casada com Arbus (fotógrafo das melhores revistas de então), filha de produtores de casacos de peles. Vive o dia-a-dia entre a vida doméstica e o trabalho de assistente do marido.

Esta divisão é excelentemente retratada por Kidman. O guarda-roupa é muito bem escolhido. Sente-se o desespero da necessidade de conformar o corpo e a alma aos vestidos de tecido duro, apertados até ao pescoço, escondendo qualquer vestígio de sensualidade, numa alusão ao sufoco de viver uma vida desajustada.

Diane vive uma vida pequena. Até ao dia em que conhece o seu mais recente vizinho, um homem encapuzado e misterioso. Há uma troca de olhares profunda, um encontro de almas. A curiosidade é mais forte e Diane vai ao seu encontro. Lionel (Robert Downey Jr.) , é um homem que sofre de uma doença que o faz ter pêlo por todo o corpo (incluindo a cara), pêlo que cresce diariamente a um ritmo que determina a sua carreira profissional: fazer perucas a partir do seu próprio pêlo.

Através de Lionel, Diane entra em contacto com um mundo surrealista: gigantes, anões, uma mulher sem braços que usa o pé em tudo o que faz (servir chá, fumar,…), verdadeiros freeks, personagens que contrastam com a vida certinha de Diane, que representam o outro lado da vida, o lado diferente e criativo, e que Diane vê com curiosidade mas também com aceitação e carinho.

O filme leva-nos para o mundo do estranho e do surreal. É misterioso e por vezes desconcertante. Tem cenas de grande ternura e de uma enorme sensualidade. Fala do modo como cada um pode ver a vida. E de escolhas.

Gostei muito e recomendo.

3 comentários:

Joaninha disse...

Obrigada pela visita ao meu espaço!...
Aí está um filme que ainda não vi e, confesso, ainda não planeei ver.
Bastou o teu comentário "mundo do estranho e do surreal" para juntar ao leque dos filmes a ver.
Filmes demasiado "reais" e de "vidas comuns" há aos montes. A surrealidade é bem mais interessante!

filipelamas disse...

Descrição muito interessante de um filme que desconhecia. A vida "pequena" é, de facto, um conceito que me assusta, embora ache que poucos são aqueles que conseguem fazer-lhe frente. Como dizes, tudo está nas escolhas que fazemos. Não há escolhas certas ou erradas. Optar pelo caminho ou pela encruzilhada é, quantas vezes, consequência da álea (ou da falta dela). Já apontei o nome do filme!

verde disse...

FL, muitas vezes penso no que é a "vida pequena" e de que modo esta questão se liga à da "regularidade" que referiste num post teu. Acho que a "vida pequena" é aquela que é desajustada da nossa forma de sentir e isenta dos elementos de que precisamos para crescer e nos sentimos bem. Se nos sentimos felizes então é porque a vida que levamos não é pequena, é a ajustada às nossas necessidades, sejam elas a de crescimento intelectual, partilha e vivência de experiências ou simplesmente de viver tranquilamente sem grandes sobressaltos e mudanças. Acho que depende de nós tornarmos a vida grande, sendo fieis a nós mesmos, cultivando os nossos gostos (sejam eles quais forem), partilhando com os outros a nossa forma de ver a vida e recebendo dos outros o que tiverem para nos dar. O que em si é tarefa nem sempre simples :-)