De tarde
naquele piquenique de burguesas
houve uma coisa simplesmente bela
e que, sem ter história nem grandezas,
em todo o caso dava uma aguarela.
foi quando tu, descendo do burrico,
foste colher, sem imposturas tolas,
a um granzoal azul de grão-de-bico
um ramalhete rubro de papoulas.
pouco depois, em cima duns penhascos,
nós acampámos, inda o Sol se via;
e houve talhadas de melão, damascos,
e pão-de-ló molhado em malvasia.
mas, todo púrpuro, a sair da renda
dos teus seios como duas rolas,
era o supremo encanto da merenda
o ramalhete rubro de papoulas!
Cesário Verde
procurei no youtube este poema declamado pelo João Villaret, mas a globalização de conteúdos ainda não chegou tão longe. fica de qualquer modo o poema, num dia de sol, em que um almoço rápido no parque da cidade fez lembrar como a tranquilidade do dia, da simples existência, continua lá, mesmo num intenso dia de semana.
4 comentários:
Digamos do you tube o que Guerra Junqueiro disse de Cesário Verde: "É pouco cesário e muito verde"... Sem desprimor para o Verde que assina este post, obviamente!
Bem como o odor a terra , e o aconchego do ar quente e morno.....
Pergunto/me se este poema te tera acompanhado a infancia.
Maria... :)
Este poema é muito bonito....mas declamado pelo Villaret ganha vida própria! quem sabe um dia :)
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